quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Os Leitores Da Mente e os Dragões da Resistência
Eu caminhava tranquilamente por uma praia com um mar revolto onde ondas gigantescas e cinzentas avolumavam-se no horizonte.
Pensava em todas aquelas coisas em que só nos é permitido pensar em estados alterados de consciência quando, subitamente, dei-me conta de que pisava em uma imensa massa amorfa cheia de dentes.
Sobressaltada, pulei para desvencilhar-me do que diabos fosse aquilo. Neste processo, um dos dentes afundou-se dolorosamente em minha carne e eu sangrei todo o sangue de vinho do Universo.
Um senhor sentado em uma cerca surgiu enquanto eu alucinava em meus últimos momentos e disse-me:
- Tudo isso não passa da sua imaginação. Preste bastante atenção: Você deve lutar! Eles estão colocando estas imagens na sua cabeça, não deixe que isso atrapalhe sua jornada. Lembre-se das aulas de oclumancia. Feche sua mente!
Quando olhei para mim mesma novamente, percebi que não sangrava mais. Não havia nem resquício do corte que momentos antes marcava minha pele. E eu não estava mais em uma praia perambulando em cima de uma massa amorfa cheia de dentes, mas sim em um quarto de hotel do século XXIII, eletronicamente tecnológico e cirurgicamente limpo.
- Ah, agora sim, de volta à realidade - pensei, respirando fundo e acendendo um cigarro.
- O que você está fazendo aí? - perguntou minha irmã do meio abrindo a porta do banheiro - Se eles descobrirem qualquer coisa... você sabe que isso vem de contrabando!
- O cigarro vem de contrabando? - perguntei, encarando de testa franzida meu Marlboro recém aceso.
- Claro que não, imbecil! Os dragões!
Ela abriu a porta do armário - e agora o quarto de hotel parecia-se muito com meu próprio quarto, só que com muitos botões e telas planas e coisas que faziam um zumbido esquisito - e mostrou-me nosso pequeno estoque de filhotes de dragões coloridos.
Onde deveria haver prateleiras e gavetas e roupas amassadas havia dois filhotes de dragões verdes-galeses comuns, um focinho-curto sueco muito azul, um bonito e cintilante olho-de-opala e quatro ovos coloridos prontos para eclodir.
- O sitema "It's bigger on the inside" que o Doctor instalou aqui está funcionando maravilhosamente bem, heim? - eu comentei.
- Ele também faz parte da nossa Resistência. Você sabe, sem os dragões não podemos derrubar os Leitores Da Mente.
Neste momento, um apito muito alto e muito estridente ecoou pelo recinto e batidas estrondosas quase derrubaram a porta do quarto.
- Eles nos descobriram! - gritou minha irmã - Vamos para o abrigo! - continuou, entrando no armário e fechando a porta atrás de si.
Mal ela havia fechado a porta do armário, a porta do quarto explodiu em mil pedacinhos e quatro homens mal-encarados vestindo elegantes fraques pretos e óculos escuros adentraram malemolentemente.
- Toda resistência é inútil! - gritou um deles.
- Cadê os dragões? - perguntou outro, retirando os óculos - Nós sabemos que eles estão aqui.
- É isso aí! - disse um terceiro - Nós vimos a fumaça!
- Fumaça? Seria essa? - eu disse, tragando meu cigarro e soprando anéis de fumaça na direção deles - Pelo que eu saiba, isso aqui não tem asas ou dentes afiados. Nem cospe fogo. A não ser que vocês chamem essa brasa de um terrível lança-chamas mortífero e desumano.
Os quatro homens de fraque ficaram a observar-me com expressões confusas por alguns instantes, até que um deles lembrou-se de que havia esquecido alguma coisa no fogo e, ora veja!, talvez fosse aquilo que estivesse fazendo a fumaça!, e saiu apressado e praguejando, seguido de perto pelos outros.
E então, quando eu estava prestes a encontrar com minha irmã para treinar nossos dragões nas artes das batalhas contra os Terríveis Leitores Da Mente, infelizmente acordei.
...
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
O Gato Elástico e a Revolução Felina
Era a casa onde eu costumava morar quando pequena, e lá eu estava novamente, sem ao menos me perguntar como havia ido parar lá (e desde quando a gente pergunta essas coisas em sonhos?). Estava com meus pais e mais um bocado de gente que eu conhecia e que não conhecia também. E eu sabia que tinha um gato, e - cat lady que sou - estava loucamente procurando por ele.
Então o gato apareceu. Cinza, listrado, com a barriga branca. E lá fui eu-titia-Felícia apertar gatinhos. Fazendo carinho na sua barriga, no entanto, percebi que ele não era um gato comum. Eu podia puxá-lo e ele se esticava tanto quanto eu quisesse. Logo o gato-elástico virou sensação na festa (ah, sim, era uma festa), e eu ria puxando seu rabo, suas patas e seu pescoço.
Mas aí tentei levantá-lo do chão. Por alguma razão que apenas os sonhos conseguem explicar, este foi o estopim para a revelação do gato-elástico. Alguém na multidão falou uma palavra e ele repetiu. Sim, repetiu. Todos na festa se espantaram e pararam o que seja que estivessem fazendo. Alguém disse outra palavra. Mostrando certa dificuldade em articulá-la, o gato voltou a repetir. Todos, então, começaram a falar para que o gato-elástico-agora-falante passasse a repeti-los. E uma após a outra, o gato repetia todas as palavras ao seu redor.
Perigo, meu alarme interno acendeu. Levantando-se como uma majestade felina, o gato-elástico-e-falante deu uma risada maligna e enfim revelou o seu plano.
Imagens correram por todos os presentes na festa. Gatos ao redor de todo o mundo se preparavam para uma revolução, um golpe de estado que transformaria os gatos na espécie dominante e faria dos humanos seus escravos. A razão, o gato-elástico-falante disse, era que os gatos eram a única espécie munida de pensamento racional no planeta.
Assim a revolução começou. Os gatos tomaram conta do planeta e apenas um pequeno grupo de humanos rebeldes tentavam nos salvar da tirania dos felinos (sim, porque qualquer pessoa que conheça um gato sabe muito bem que eles seriam ainda piores do que os humanos se tomassem conta do mundo). Logo este pequeno grupo começou a unir forças com outros animais, em especial os elefantes, para iniciar uma contra-revolução. Iríamos provar aos tiranos gatos que nós, os outros animais, éramos sim donos de pensamento racional e capacidade intelectual.
E aí, justamente quando a revolução ia começar, meu despertador tocou. E eu, cat lady assumida, confesso que fiquei um pouquinho desconfiada quando aquele gato da casa do lado me encarou enquanto ia para o trabalho.
Então o gato apareceu. Cinza, listrado, com a barriga branca. E lá fui eu-titia-Felícia apertar gatinhos. Fazendo carinho na sua barriga, no entanto, percebi que ele não era um gato comum. Eu podia puxá-lo e ele se esticava tanto quanto eu quisesse. Logo o gato-elástico virou sensação na festa (ah, sim, era uma festa), e eu ria puxando seu rabo, suas patas e seu pescoço.
Mas aí tentei levantá-lo do chão. Por alguma razão que apenas os sonhos conseguem explicar, este foi o estopim para a revelação do gato-elástico. Alguém na multidão falou uma palavra e ele repetiu. Sim, repetiu. Todos na festa se espantaram e pararam o que seja que estivessem fazendo. Alguém disse outra palavra. Mostrando certa dificuldade em articulá-la, o gato voltou a repetir. Todos, então, começaram a falar para que o gato-elástico-agora-falante passasse a repeti-los. E uma após a outra, o gato repetia todas as palavras ao seu redor.
Perigo, meu alarme interno acendeu. Levantando-se como uma majestade felina, o gato-elástico-e-falante deu uma risada maligna e enfim revelou o seu plano.
Imagens correram por todos os presentes na festa. Gatos ao redor de todo o mundo se preparavam para uma revolução, um golpe de estado que transformaria os gatos na espécie dominante e faria dos humanos seus escravos. A razão, o gato-elástico-falante disse, era que os gatos eram a única espécie munida de pensamento racional no planeta.
Assim a revolução começou. Os gatos tomaram conta do planeta e apenas um pequeno grupo de humanos rebeldes tentavam nos salvar da tirania dos felinos (sim, porque qualquer pessoa que conheça um gato sabe muito bem que eles seriam ainda piores do que os humanos se tomassem conta do mundo). Logo este pequeno grupo começou a unir forças com outros animais, em especial os elefantes, para iniciar uma contra-revolução. Iríamos provar aos tiranos gatos que nós, os outros animais, éramos sim donos de pensamento racional e capacidade intelectual.
E aí, justamente quando a revolução ia começar, meu despertador tocou. E eu, cat lady assumida, confesso que fiquei um pouquinho desconfiada quando aquele gato da casa do lado me encarou enquanto ia para o trabalho.
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