domingo, 26 de fevereiro de 2012

O Planeta Água (ou O Dia Em Que Eu Virei Um Menino Azul De Doze Anos)

Pelos idos anos de 2009 sonhei que era um tipo de alienígena. Meu corpo não era muito diferente do dos seres humanos - eu possuía dois braços, duas pernas e uma cabeça, mas era completamente azul. E, além disso, eu era um garoto.

O planeta era quase em sua totalidade recoberto por água. E foi nos poucos pedaços de terra emersa que a espécie humanóide da qual eu fazia parte ergueu sua civilização. Era bastante avançada tecnologicamente, mas nossas ciências andavam de mãos-dadas com a nossa religião. Os deuses ali adorados eram divindades energéticas ligadas às águas e ao sol, e eram justamente nestas ligações energéticas entre o cosmos e a natureza que nossas ciências se baseavam.

Pois bem. Havia um ritual matinal a ser empreendido por todas as crianças de até quatorze anos que consistia na saudação do deus sol. Eu, como já mencionei, era um garoto que devia ter por volta de uns doze anos e, consequentemente, deveria participar de tal ritual, o qual acontecia todos os dias no gramado sempre verde do que foi chamado de Jardim Imperial.

O Jardim Imperial era um espaço enorme, cheio de lagos e rios, que circundava o Palácio Imperial - uma construção muito parecida com aquelas da Grécia terráquea antiga, com pilastras brancas e uma grande escadaria. E bem na frente da grande escadaria, ao lado da porta principal, havia um imenso telão que mostrava os últimos acontecimentos do planeta, em especial o que acontecia em sua órbita. E o ritual de saudação ao sol acontecia do lado oposto da onde ficava este telão, o que fazia com que todas as pessoas ficassem de costas para ele.

Eu - ou o menino azul de doze anos que naquele momento era eu - era, obviamente, filho do Imperador. E era um tanto quanto rebelde, não queria ficar ali naquele jardim erguendo os braços  cantando feito besta para um deus que nem olhos ou ouvidos tinha.

Virei-me então para o Palácio e fiquei a observar o telão. Guardas com capacetes de cascos de tartarugas me viram, e precisei correr para me esconder. Mergulhei em um dos lagos espelhados que havia por ali e comecei a nadar um tipo de dança bizarra. Os guardas gritaram que aquilo era um sacrilégio e que eu devia ser punido, e que meu pai não iria gostar nem um pouco de ver o único filho dele tendo aquele tipo de atitude.

Fui mandado, então, para o "Tubo do Castigo". Crianças desobedientes costumavam passar um tempo lá. Era um tubo transparente, de vidro ou plástico, talvez, que ficava submerso no lago e que mergulhei. E lá estava eu padecendo meu castigo quando me enfezei com aquele mundo e resolvi fazer de tudo para sair dali. Quando eu fosse Imperador, pensei, as coisas seriam bem diferentes.

Por algum motivo - talvez porque eu fosse filho do Imperador - eu tinha alguma ideia de como funcionavam os controles daquele tubo do castigo, e, apertando os botões em uma sequência musical, consegui fazer com que o tubo subisse pelo lago, cada vez mais rápido, até que finalmente atingi a superfície.

O tal ritual - ou talvez fosse outro, aquele planeta tinha um ritual para cada minuto do dia - ainda acontecia. Estavam todos concentradíssimos em posição de águia voadora que nem perceberam minha fuga, com tubo e tudo, do castigo imposto.

Olhei para o telão; todos ainda estavam de costas para ele. E então percebi que havia alguma coisa muito errada com ele. Uma luz vermelha e verde piscava na tela, e se aproximava cada vez mais do nosso planeta.

- Eles chegaram!! - eu gritei - Eu bem que avisei!! Corram todos para o abrigo!!

Abri a porta - ou o que quer que aquilo fosse - do meu tubo do castigo e puxei dois humanoides azuis da minha espécie para dentro: Um senhor bem mais velho e a menina que era minha melhor amiga.

Apontei o tubo para o lago e comecei a descer. O abrigo ficava em um complexo aquático debaixo dos lagos. E no meio do caminho, de repente, meu tubo se partiu. Muita água começou a entrar por vários lugares e o senhor que estava comigo começou a se desesperar. Continuamos nadando, o abrigo estava perto, e, por sorte, conseguimos chegar vivos.

Lá, secos e com ar, vimos que muita gente não tinha tido a mesma sorte que nós. O sistema de segurança bloqueou todas as entradas, fazendo com que muitas pessoas azuis morresses afogadas. Eu chorei, e prometi, entre soluços, para minha amiga e para  senhor que ali estavam, que quando eu fosse Imperador uma tragédia daquelas nunca mais aconteceria.

E acordei...

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