Sonhei que caminhava alegremente por um parquinho infantil quando deparei-me com uma imensa torre feita de blocos de pedra e guardada por dois guardas romanos.
- Opa, e aí, beleza? - perguntei para um dos guardas.
- Na verdade não. Tá tendo a maior festança lá em cima e nós aqui em baixo, matando caramujos.
- Sabe como é - respondeu o outro - não podemos deixar entrar quem não foi convidado. E caramujos são a espécie mais penetra do planeta.
- Ei, você foi convidada? - perguntou o outro, erguendo sua lança em posição de combate.
- Obviamente.
- Tem o convite??
- Bem, na verdade não. Mas não sou um caramujo, veja - respondi, abrindo os braços para que me vissem melhor.
- Não sei... tem essas coisas na sua cabeça que parecem antenas. O que você acha Scruge?
- Acho que isso é o cabelo dela, coitada. - respondeu o outro guarda - Não deve penteá-lo há o quê, umas duas décadas?
- É verdade. Tudo bem, então. Pode passar. Mas penteie o cabelo quando puder, sim?
E, então, entrei na torre. Havia uma escadaria circular de madeira logo após a entrada. Comecei a subir os degraus lentamente, estava tudo muito quieto para uma festa. Ao chegar ao topo da torre pude ver uma sala imensa, onde várias pessoas estavam agachadas.
- Todo mundo abaixado aí, então!! - gritou uma voz - Vamos tocar fogo!
"Puxa, a festa deve tá bombando, mesmo!" pensei.
Tiros de metralhadora começaram a ecoar pela sala. Um fósforo foi atirado em uma cortina, que começou a queimar quase imediatamente.
"Opa. É outro tipo de fogo. Talvez seja melhor correr".
Desci correndo a escada, e quando cheguei ao térreo, o Thiago, meu namorado, surgiu de trás de uma pilastra, com roupas rasgadas e uma faixa tipo "rambo" na cabeça dizendo-me que fazia parte da "Resistência" e que precisávamos dar o fora dali o quanto antes.
- Não há mais lugares seguros - disse ele, fazendo marcas de tinta guache preta em minhas bochechas e puxando-me pelo braço.
Saímos da torre. Os guardas romanos não estavam mais tomando conta da entrada. Talvez os caramujos tivessem desistido de ir à festa sem convite, uma vez que ela ficara um pouco mais quente do que o esperado, fazendo com que os guardas pudessem voltar para suas respectivas casas a tempo do chá com biscoitos e da novela das seis. Ou talvez eles simplesmente tivessem sido mortos pelos caras maus da história. Vai saber.
Quando chegamos ao parquinho infantil que havia nas imediações da torre alguns senhores fardados e suspeitos estavam rondando o local. Provavelmente eram os caras maus da história. Fizemos então o que era mais lógico naquele momento: fingimos ser crianças pequenas que não tinham ideia do que estava acontecendo e brincamos no balanço.
- Você precisa continuar - disse-me Thiago - Vai, eu fico aqui para te dar cobertura.
Andei por uma rua cheia de postes de iluminação antigos e cheguei na frente de um tipo de galpão cinzento. Nesta hora vários homens fardados apareceram escoltando muitos amigos meus da FFLCH que haviam sido presos por desordem e desacato a autoridade.
- Levem todos para interrogatório. O plano tem que continuar - disse um dos homens, que tinha grandes bigodes cinzas, para um subordinado.
- Estão planejando uma guerra nuclear total - cochichou-me alguém - Eles não sabem que você é da resistência. Faça alguma coisa!
Os caras maus da história levaram meus amigos para dentro do galpão. Eu precisava fazer alguma coisa!
- Mas que diabos! - disse o general de bigodes cinzas - Estou sem cigarros de novo. Essas leis malditas que aumentaram o preço dos maços, não aguento mais pagar tantos impostos.
- Ei, seu general! - disse eu, sacando um maço de cigarros Marlboro do bolso - Eu tenho cigarros.
- Ótimo. Me dá aqui.
- De jeito nenhum! - gritei, correndo de um lado para o outro me esquivando dos seus subordinados
- Peguem essa garota!! - gritou ele enfurecido. Mas eu era boa em "dar olé" nos caras maus da história, que, por sua vez, não tinham uma resistência física muito boa e caíam sem fôlego rapidamente. Talvez por isso eu fizesse parte da "Resistência" e eles não. Quem sabe.
- Será que vou ter que fazer tudo sozinho? - gritou o general, vindo em minha direção.
- Acalme-se, senhor general - disse eu, de cima de uma pilha de subordinados caídos - Eu posso te dar um cigarro, se você quiser.
- É claro que eu quero!
- Então vamos fazer um trato. Eu te dou este maço de cigarros novinho e fechadinho - disse eu, balançando o maço na frente dele - e você liberta meus amigos e desiste do plano maluco de bombardear o mundo.
- Eu não posso fazer isso.
- Então tudo bem, eu mesma vou fumar estes cigarros - respondi, abrindo o maço lentamente.
- Ah... não acredito que vou fazer isso, mas... - disse o general, tremendo - Podem soltar aqueles animais. E cancelem a guerra. Não vale mais a pena, mesmo.
Eu entreguei-lhe o maço de cigarros, meus amigos foram soltos, todos viveram felizes para sempre... e eu acordei.
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