quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Os Leitores Da Mente e os Dragões da Resistência
Eu caminhava tranquilamente por uma praia com um mar revolto onde ondas gigantescas e cinzentas avolumavam-se no horizonte.
Pensava em todas aquelas coisas em que só nos é permitido pensar em estados alterados de consciência quando, subitamente, dei-me conta de que pisava em uma imensa massa amorfa cheia de dentes.
Sobressaltada, pulei para desvencilhar-me do que diabos fosse aquilo. Neste processo, um dos dentes afundou-se dolorosamente em minha carne e eu sangrei todo o sangue de vinho do Universo.
Um senhor sentado em uma cerca surgiu enquanto eu alucinava em meus últimos momentos e disse-me:
- Tudo isso não passa da sua imaginação. Preste bastante atenção: Você deve lutar! Eles estão colocando estas imagens na sua cabeça, não deixe que isso atrapalhe sua jornada. Lembre-se das aulas de oclumancia. Feche sua mente!
Quando olhei para mim mesma novamente, percebi que não sangrava mais. Não havia nem resquício do corte que momentos antes marcava minha pele. E eu não estava mais em uma praia perambulando em cima de uma massa amorfa cheia de dentes, mas sim em um quarto de hotel do século XXIII, eletronicamente tecnológico e cirurgicamente limpo.
- Ah, agora sim, de volta à realidade - pensei, respirando fundo e acendendo um cigarro.
- O que você está fazendo aí? - perguntou minha irmã do meio abrindo a porta do banheiro - Se eles descobrirem qualquer coisa... você sabe que isso vem de contrabando!
- O cigarro vem de contrabando? - perguntei, encarando de testa franzida meu Marlboro recém aceso.
- Claro que não, imbecil! Os dragões!
Ela abriu a porta do armário - e agora o quarto de hotel parecia-se muito com meu próprio quarto, só que com muitos botões e telas planas e coisas que faziam um zumbido esquisito - e mostrou-me nosso pequeno estoque de filhotes de dragões coloridos.
Onde deveria haver prateleiras e gavetas e roupas amassadas havia dois filhotes de dragões verdes-galeses comuns, um focinho-curto sueco muito azul, um bonito e cintilante olho-de-opala e quatro ovos coloridos prontos para eclodir.
- O sitema "It's bigger on the inside" que o Doctor instalou aqui está funcionando maravilhosamente bem, heim? - eu comentei.
- Ele também faz parte da nossa Resistência. Você sabe, sem os dragões não podemos derrubar os Leitores Da Mente.
Neste momento, um apito muito alto e muito estridente ecoou pelo recinto e batidas estrondosas quase derrubaram a porta do quarto.
- Eles nos descobriram! - gritou minha irmã - Vamos para o abrigo! - continuou, entrando no armário e fechando a porta atrás de si.
Mal ela havia fechado a porta do armário, a porta do quarto explodiu em mil pedacinhos e quatro homens mal-encarados vestindo elegantes fraques pretos e óculos escuros adentraram malemolentemente.
- Toda resistência é inútil! - gritou um deles.
- Cadê os dragões? - perguntou outro, retirando os óculos - Nós sabemos que eles estão aqui.
- É isso aí! - disse um terceiro - Nós vimos a fumaça!
- Fumaça? Seria essa? - eu disse, tragando meu cigarro e soprando anéis de fumaça na direção deles - Pelo que eu saiba, isso aqui não tem asas ou dentes afiados. Nem cospe fogo. A não ser que vocês chamem essa brasa de um terrível lança-chamas mortífero e desumano.
Os quatro homens de fraque ficaram a observar-me com expressões confusas por alguns instantes, até que um deles lembrou-se de que havia esquecido alguma coisa no fogo e, ora veja!, talvez fosse aquilo que estivesse fazendo a fumaça!, e saiu apressado e praguejando, seguido de perto pelos outros.
E então, quando eu estava prestes a encontrar com minha irmã para treinar nossos dragões nas artes das batalhas contra os Terríveis Leitores Da Mente, infelizmente acordei.
...
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
O Gato Elástico e a Revolução Felina
Era a casa onde eu costumava morar quando pequena, e lá eu estava novamente, sem ao menos me perguntar como havia ido parar lá (e desde quando a gente pergunta essas coisas em sonhos?). Estava com meus pais e mais um bocado de gente que eu conhecia e que não conhecia também. E eu sabia que tinha um gato, e - cat lady que sou - estava loucamente procurando por ele.
Então o gato apareceu. Cinza, listrado, com a barriga branca. E lá fui eu-titia-Felícia apertar gatinhos. Fazendo carinho na sua barriga, no entanto, percebi que ele não era um gato comum. Eu podia puxá-lo e ele se esticava tanto quanto eu quisesse. Logo o gato-elástico virou sensação na festa (ah, sim, era uma festa), e eu ria puxando seu rabo, suas patas e seu pescoço.
Mas aí tentei levantá-lo do chão. Por alguma razão que apenas os sonhos conseguem explicar, este foi o estopim para a revelação do gato-elástico. Alguém na multidão falou uma palavra e ele repetiu. Sim, repetiu. Todos na festa se espantaram e pararam o que seja que estivessem fazendo. Alguém disse outra palavra. Mostrando certa dificuldade em articulá-la, o gato voltou a repetir. Todos, então, começaram a falar para que o gato-elástico-agora-falante passasse a repeti-los. E uma após a outra, o gato repetia todas as palavras ao seu redor.
Perigo, meu alarme interno acendeu. Levantando-se como uma majestade felina, o gato-elástico-e-falante deu uma risada maligna e enfim revelou o seu plano.
Imagens correram por todos os presentes na festa. Gatos ao redor de todo o mundo se preparavam para uma revolução, um golpe de estado que transformaria os gatos na espécie dominante e faria dos humanos seus escravos. A razão, o gato-elástico-falante disse, era que os gatos eram a única espécie munida de pensamento racional no planeta.
Assim a revolução começou. Os gatos tomaram conta do planeta e apenas um pequeno grupo de humanos rebeldes tentavam nos salvar da tirania dos felinos (sim, porque qualquer pessoa que conheça um gato sabe muito bem que eles seriam ainda piores do que os humanos se tomassem conta do mundo). Logo este pequeno grupo começou a unir forças com outros animais, em especial os elefantes, para iniciar uma contra-revolução. Iríamos provar aos tiranos gatos que nós, os outros animais, éramos sim donos de pensamento racional e capacidade intelectual.
E aí, justamente quando a revolução ia começar, meu despertador tocou. E eu, cat lady assumida, confesso que fiquei um pouquinho desconfiada quando aquele gato da casa do lado me encarou enquanto ia para o trabalho.
Então o gato apareceu. Cinza, listrado, com a barriga branca. E lá fui eu-titia-Felícia apertar gatinhos. Fazendo carinho na sua barriga, no entanto, percebi que ele não era um gato comum. Eu podia puxá-lo e ele se esticava tanto quanto eu quisesse. Logo o gato-elástico virou sensação na festa (ah, sim, era uma festa), e eu ria puxando seu rabo, suas patas e seu pescoço.
Mas aí tentei levantá-lo do chão. Por alguma razão que apenas os sonhos conseguem explicar, este foi o estopim para a revelação do gato-elástico. Alguém na multidão falou uma palavra e ele repetiu. Sim, repetiu. Todos na festa se espantaram e pararam o que seja que estivessem fazendo. Alguém disse outra palavra. Mostrando certa dificuldade em articulá-la, o gato voltou a repetir. Todos, então, começaram a falar para que o gato-elástico-agora-falante passasse a repeti-los. E uma após a outra, o gato repetia todas as palavras ao seu redor.
Perigo, meu alarme interno acendeu. Levantando-se como uma majestade felina, o gato-elástico-e-falante deu uma risada maligna e enfim revelou o seu plano.
Imagens correram por todos os presentes na festa. Gatos ao redor de todo o mundo se preparavam para uma revolução, um golpe de estado que transformaria os gatos na espécie dominante e faria dos humanos seus escravos. A razão, o gato-elástico-falante disse, era que os gatos eram a única espécie munida de pensamento racional no planeta.
Assim a revolução começou. Os gatos tomaram conta do planeta e apenas um pequeno grupo de humanos rebeldes tentavam nos salvar da tirania dos felinos (sim, porque qualquer pessoa que conheça um gato sabe muito bem que eles seriam ainda piores do que os humanos se tomassem conta do mundo). Logo este pequeno grupo começou a unir forças com outros animais, em especial os elefantes, para iniciar uma contra-revolução. Iríamos provar aos tiranos gatos que nós, os outros animais, éramos sim donos de pensamento racional e capacidade intelectual.
E aí, justamente quando a revolução ia começar, meu despertador tocou. E eu, cat lady assumida, confesso que fiquei um pouquinho desconfiada quando aquele gato da casa do lado me encarou enquanto ia para o trabalho.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Uma Nova Sonhadora
Fiquei um tempo pensando em como poderia começar minha apresentação, aí me lembrei daquela velha máxima que diz que nada é clássico por acaso, portanto…
Olá!
A partir de hoje este blog ganha mais uma sonhadora. Assim como a Karol, também tenho muitos sonhos e muito bizarros. E, assim como a Karol, também tenho outro blog, para quem se interessar.
Como meu primeiro post aqui, resolvi reciclar um post já utilizado no meu outro blog. Não por falta de carinho, mas sim porque este post conta de forma resumida os principais temas dos meus sonhos. E, acredite, eu sonho muito.
Então assim, sem mais delongas, apresento a lista de "Sonhos Que Eu Tenho":
Desde minha mais remota lembrança tenho estes sonhos. Para mim eles sempre foram muito normais e eu achava que todos tinham sonhos como os meus - até começar a contar para as pessoas e elas fazerem cara de "Céus, você é louca".
Na adolescência, talvez devido aos hormônios, a freqüência e o nível de bizarrice dos sonhos aumentaram muito. Somente após os 19 eles começaram a ocorrer com menos freqüência - ou eu passei a lembrar menos deles.
Houve uma época em que tentei interpretá-los. Quer dizer, alguns sonhos que tenho são facilmente explicáveis - foram causados por algo que vi, falei ou pensei durante o dia. Já outros, por mais que terapeutas possam tentar interpretar, simplesmente não significam nada, exceto que eu tenho uma imaginação bastante fértil.
Mas há uma espécie de padrão nos meus sonhos. A maioria deles podem ser enquadrados em algumas categorias. São elas:
- Cidade dos Sonhos: Há uma cidade que freqüentemente visito durante os sonhos. Comecei a sonhar com ela por volta dos 15 anos de idade, e no começo era uma cidadezinha de interior, com uma pracinha simpática e coreto no centro. Com o tempo ela foi aumentando - não me perguntem como, mas eu sempre sei quando estou nesta cidade, e também sei que é a mesma cidade desde a primeira vez -, ganhando prédios, lojas, prefeitura, shopping centers, metrô. Uma das regiões desta cidade tem verdadeiros arranhacéus de centenas de andares, com elevadores que andam em todas as direções. Com grande freqüência eu visito o topo destes arranhacéus e observo - com uma certa vertigem mas sem muito medo - a cidade lá de cima. Há também nesta Minha Cidade muitas igrejas, que são o próximo tópico.
- Igrejas e Sinagogas: Não sou religiosa. Oficialmente me considero agnóstica, mas confesso que tenho lá minhas crençazinhas aqui e ali. Não vem ao caso. Mas o fato é que já tive e ainda tenho muitos sonhos passados em igrejas e sinagogas. Todos eles são envolvidos por uma aura extremamente religiosa - quase medieval. Já sonhei, por exemplo, que eu era um homem entrando numa igreja, chorando porque havia perdido toda a família. Esse homem - eu - olhava para o Cristo pendurado no altar e, gritando algo em russo, tirava um punhal do bolso e o enfiava na própria barriga. Em outro sonho eu chorava copiosamente em uma sinagoga porque queria o direito de entrar na área reservada para os judeus de nascença, até que um rabino de barba longa me entregou algumas escrituras que eu deveria ler antes de poder entrar ali. Em outro, ainda - que por acaso foi o primeiro sonho que me lembro na Minha Cidade -, eu procurava por uma igreja ortodoxa. Ao encontrá-la eu precisava urgentemente entrar nela, mas vi que ela estava em reforma. Havia anjos assustadores em sua fachada.
- Shopping Centers: Menos macabros do que os do tópico anterior, os sonhos com shopping centers têm se tornado mais freqüentes nos últimos anos. São sonhos em geral chatos, porque entram em um ciclo que nunca termina. No último que tive com este tema eu tinha que sair do shopping após seu fechamento, e a única forma era através de um tobogã no qual eu tinha que prestar muita atenção para fazer a curva no lugar certo ou voltaria para dentro do shopping. Não preciso dizer que esqueci de fazer esta curva MUITAS vezes, até enjoar do sonho e acabar acordando.
- Praias, Piscinas e Lagoas: Estes são sonhos que eu realmente precisaria filmar para poder explicar. Na parte de piscinas e lagoas em geral eu também vôo - o que acontece quando eu pulo muito alto e demoro para voltar ao chão. Já as praias são verdadeiras obras surrealistas. São sonhos bastante claros e cheios de cores vibrantes, todos os desta categoria. O mar muda muito de forma - em uma das vezes ele era cerca de 1,5m mais alto do que a areia e ficava como que "pendurado" no ar, como se houvesse uma barreira invisível segurando-o. As piscinas em geral têm chafarizes e animais - como uma vez, em que o tubarão que habitava uma delas virava um leão quando saía da água. Já as lagoas são sonhos com natureza, geralmente com uma cachoeira e trilhas na montanha. Só em sonho, mesmo...
- Mudar de Casa: Já mudei muitas vezes. Contando nos dedos não cabe em uma mão todas as mudanças que já fiz na minha vida. Mas se eu for contar aí também as mudanças que já fiz em sonhos, não sobra dedos para contar história - nem se eu usasse os de todos vocês juntos. Estes sonhos se passam em casas ou apartamentos que são verdadeiros paraísos. São em geral sonhos muito agradáveis, mas que me deixam um pouquinho triste quando acordo e percebo que não era verdade. Confesso que estes sonhos talvez representem minha inquietação ao morar muito tempo em um lugar só.
- Viajar: Estes são os sonhos em que eu mais digo a frase "E desta vez não é sonho, é de verdade!". Não precisa nem dizer quão decepcionada fico quando acordo, não é? Já viajei para o Egito, para Paris, Londres, Madrid, Tóquio, Pequim, Sidney... Tantas cidades e países que já conheci em sonhos que não saberia citar todas. Em vários destes sonhos eu choro de emoção ao perceber que "realmente" estou no tal lugar. Sonhos deliciosos, mas que invariavelmente me deixam triste quando acordo.
- Dorgas, Manolo!: Estes são aqueles sem pé nem cabeça. Um dos mais célebres foi quando fui expulsa de um avião em pleno vôo e decidi voar atrás dele para me vingar. O céu estava vermelho e eu voava com os braços abertos, como um avião. O avião, por sua vez, fugia de mim e volta e meia "olhava" - imaginem algo como Jay-Jay, o Jatinho - para trás para ver se eu ainda estava atrás dele. Bem que uma amiga dizia que na nossa turma "o mais normal corre atrás de avião". Faz sentido.
Tenho ainda várias outras categorias que poderia colocar aqui, mas deixo para contar sobre elas quando tiver sonhos fresquinhos - ou me lembrar de algum antigo - para relatar. Por enquanto deixo vocês só com uma idéia de o que se passa na minha cabeça enquanto estou dormindo.
terça-feira, 12 de junho de 2012
O Nascimento De Uma Pirâmide No Deserto Amarelo (ou A Manada De Búfalos Evangélicos Do Interior Da Pirâmide)
Sonho com a participação especial de Luara Lulua, João Carlos Villela e Leandro Chiaratti. Porque, bem, algumas vezes o meu subconsciente acha muito divertido colocar ozamiguë conhecido para fazer umas pontas nas minhas brisas representando os papéis mais esdrúxulos que ele é capaz de inventar.
...
Eu caminhava a esmo por um deserto muito seco e muito amarelo tendo apenas o Sol escaldante como companheiro. A areia sob meus pés era fina e fofa, fazendo com que meus pés se afundassem cansativamente a cada passada. Fazia calor, muito calor. Eu precisava desesperadamente de um copo de água.
- Olha, olha, olha, olha a água mineral! A água mineral! A água mineral! A água mineral do Candeal! Você vai ficar legal!
Levantei meus olhos em busca da voz que cantava animadamente aquela pseudo-música e avistei um homenzinho baixo e gordo de bigodes brancos. Seria uma miragem? Ele estava atrás de uma barraquinha com centenas de garrafas de água a sua volta. E, bem ao lado dele, ora vejam!, estava minha querida amiga Luara vestida de chapeuzinho vermelho e segurando uma cesta de doces caramelados.
- Lua! - eu disse, pegando uma garrafa de água de virando-a em um gole só - Que saudade! O que você está fazendo no meio do deserto num dia como esses?
- Estou vendendo doces! E água! Aliás, essa que você tomou custa dois reais.
E então o chão começou a tremer. As enormes dunas de areia movimentaram-se bruscamente e a ponta de algo parecido com uma pirâmide começou a surgir quase que debaixo dos meus pés.
- Xi, Carol. É melhor você chamar um táxi. Assistir ao nascimento de uma pirâmide pode causar sérios danos no cérebro - disse-me Lua, colocando seu capuz e sumindo no segundo seguinte, acompanhada logo em seguida pelo homenzinho de bigodes brancos.
Como diabos eu chamaria um táxi no meio de um deserto em trabalho de parto?
- Alguém pediu um táxi? - disse uma voz conhecida vinda de algum lugar acima da minha cabeça.
Em um tapete mágico voador cor-de-vinho estava um moço barbado trajando roupas orientais e um turbante branco cintilante.
- Oi Carol! Sobe logo, a bolsa já estourou, a pirâmide vai nascer a qualquer momento.
- João! Não sabia que você trabalhava como motorista de tapetes mágicos.
- Pois é. Nem eu.
Subi no tapete bem na hora em que a enorme pirâmide emergiu da areia com a força de mil megatons. Escapamos por pouco.
Quando as coisas se acalmaram, a versão taxista oriental do João me deixou em terra novamente e eu resolvi que seria uma excelente ideia explorar aquela recém-nascida pirâmide.
Entrei no monumento, agora vestindo roupas parecidas com as do Indiana Jones, e descobri que o interior da pirâmide era, na verdade, uma enorme campina iluminada pelo pôr-do-Sol onde uma manada de búfalos pastava sob o olhar atento - ou nem tão atento assim - de um moço vestindo botas de couro malhado e chapéu de caubói que se apoiava despreocupadamente em uma cerca de madeira.
- Chiaratti! - falei - Fazendo bico de pastor de búfalos?
- Pastores de búfalos são o que há de mais avançado em matéria de igrejas evangélicas.
Os búfalos não estavam pastando. Estavam rezando. Um deles, inclusive, gritava que seu colega estava possuído pelo demônio caprino e precisava ser exorcizado com três baforadas de erva-de-cheiro.
E então o Elvis Presley apareceu de trás de uma árvore dizendo que estava muito atrasado para o próximo show do século trinta e um e eu finalmente acordei.
...
XD
...
Eu caminhava a esmo por um deserto muito seco e muito amarelo tendo apenas o Sol escaldante como companheiro. A areia sob meus pés era fina e fofa, fazendo com que meus pés se afundassem cansativamente a cada passada. Fazia calor, muito calor. Eu precisava desesperadamente de um copo de água.
- Olha, olha, olha, olha a água mineral! A água mineral! A água mineral! A água mineral do Candeal! Você vai ficar legal!
Levantei meus olhos em busca da voz que cantava animadamente aquela pseudo-música e avistei um homenzinho baixo e gordo de bigodes brancos. Seria uma miragem? Ele estava atrás de uma barraquinha com centenas de garrafas de água a sua volta. E, bem ao lado dele, ora vejam!, estava minha querida amiga Luara vestida de chapeuzinho vermelho e segurando uma cesta de doces caramelados.
- Lua! - eu disse, pegando uma garrafa de água de virando-a em um gole só - Que saudade! O que você está fazendo no meio do deserto num dia como esses?
- Estou vendendo doces! E água! Aliás, essa que você tomou custa dois reais.
E então o chão começou a tremer. As enormes dunas de areia movimentaram-se bruscamente e a ponta de algo parecido com uma pirâmide começou a surgir quase que debaixo dos meus pés.
- Xi, Carol. É melhor você chamar um táxi. Assistir ao nascimento de uma pirâmide pode causar sérios danos no cérebro - disse-me Lua, colocando seu capuz e sumindo no segundo seguinte, acompanhada logo em seguida pelo homenzinho de bigodes brancos.
Como diabos eu chamaria um táxi no meio de um deserto em trabalho de parto?
- Alguém pediu um táxi? - disse uma voz conhecida vinda de algum lugar acima da minha cabeça.
Em um tapete mágico voador cor-de-vinho estava um moço barbado trajando roupas orientais e um turbante branco cintilante.
- Oi Carol! Sobe logo, a bolsa já estourou, a pirâmide vai nascer a qualquer momento.
- João! Não sabia que você trabalhava como motorista de tapetes mágicos.
- Pois é. Nem eu.
Subi no tapete bem na hora em que a enorme pirâmide emergiu da areia com a força de mil megatons. Escapamos por pouco.
Quando as coisas se acalmaram, a versão taxista oriental do João me deixou em terra novamente e eu resolvi que seria uma excelente ideia explorar aquela recém-nascida pirâmide.
Entrei no monumento, agora vestindo roupas parecidas com as do Indiana Jones, e descobri que o interior da pirâmide era, na verdade, uma enorme campina iluminada pelo pôr-do-Sol onde uma manada de búfalos pastava sob o olhar atento - ou nem tão atento assim - de um moço vestindo botas de couro malhado e chapéu de caubói que se apoiava despreocupadamente em uma cerca de madeira.
- Chiaratti! - falei - Fazendo bico de pastor de búfalos?
- Pastores de búfalos são o que há de mais avançado em matéria de igrejas evangélicas.
Os búfalos não estavam pastando. Estavam rezando. Um deles, inclusive, gritava que seu colega estava possuído pelo demônio caprino e precisava ser exorcizado com três baforadas de erva-de-cheiro.
E então o Elvis Presley apareceu de trás de uma árvore dizendo que estava muito atrasado para o próximo show do século trinta e um e eu finalmente acordei.
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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
A Terceira Guerra Mundial (Ou Como Eu Salvei O Mundo Com Apenas Um Maço De Cigarros)
Sonhei que caminhava alegremente por um parquinho infantil quando deparei-me com uma imensa torre feita de blocos de pedra e guardada por dois guardas romanos.
- Opa, e aí, beleza? - perguntei para um dos guardas.
- Na verdade não. Tá tendo a maior festança lá em cima e nós aqui em baixo, matando caramujos.
- Sabe como é - respondeu o outro - não podemos deixar entrar quem não foi convidado. E caramujos são a espécie mais penetra do planeta.
- Ei, você foi convidada? - perguntou o outro, erguendo sua lança em posição de combate.
- Obviamente.
- Tem o convite??
- Bem, na verdade não. Mas não sou um caramujo, veja - respondi, abrindo os braços para que me vissem melhor.
- Não sei... tem essas coisas na sua cabeça que parecem antenas. O que você acha Scruge?
- Acho que isso é o cabelo dela, coitada. - respondeu o outro guarda - Não deve penteá-lo há o quê, umas duas décadas?
- É verdade. Tudo bem, então. Pode passar. Mas penteie o cabelo quando puder, sim?
E, então, entrei na torre. Havia uma escadaria circular de madeira logo após a entrada. Comecei a subir os degraus lentamente, estava tudo muito quieto para uma festa. Ao chegar ao topo da torre pude ver uma sala imensa, onde várias pessoas estavam agachadas.
- Todo mundo abaixado aí, então!! - gritou uma voz - Vamos tocar fogo!
"Puxa, a festa deve tá bombando, mesmo!" pensei.
Tiros de metralhadora começaram a ecoar pela sala. Um fósforo foi atirado em uma cortina, que começou a queimar quase imediatamente.
"Opa. É outro tipo de fogo. Talvez seja melhor correr".
Desci correndo a escada, e quando cheguei ao térreo, o Thiago, meu namorado, surgiu de trás de uma pilastra, com roupas rasgadas e uma faixa tipo "rambo" na cabeça dizendo-me que fazia parte da "Resistência" e que precisávamos dar o fora dali o quanto antes.
- Não há mais lugares seguros - disse ele, fazendo marcas de tinta guache preta em minhas bochechas e puxando-me pelo braço.
Saímos da torre. Os guardas romanos não estavam mais tomando conta da entrada. Talvez os caramujos tivessem desistido de ir à festa sem convite, uma vez que ela ficara um pouco mais quente do que o esperado, fazendo com que os guardas pudessem voltar para suas respectivas casas a tempo do chá com biscoitos e da novela das seis. Ou talvez eles simplesmente tivessem sido mortos pelos caras maus da história. Vai saber.
Quando chegamos ao parquinho infantil que havia nas imediações da torre alguns senhores fardados e suspeitos estavam rondando o local. Provavelmente eram os caras maus da história. Fizemos então o que era mais lógico naquele momento: fingimos ser crianças pequenas que não tinham ideia do que estava acontecendo e brincamos no balanço.
- Você precisa continuar - disse-me Thiago - Vai, eu fico aqui para te dar cobertura.
Andei por uma rua cheia de postes de iluminação antigos e cheguei na frente de um tipo de galpão cinzento. Nesta hora vários homens fardados apareceram escoltando muitos amigos meus da FFLCH que haviam sido presos por desordem e desacato a autoridade.
- Levem todos para interrogatório. O plano tem que continuar - disse um dos homens, que tinha grandes bigodes cinzas, para um subordinado.
- Estão planejando uma guerra nuclear total - cochichou-me alguém - Eles não sabem que você é da resistência. Faça alguma coisa!
Os caras maus da história levaram meus amigos para dentro do galpão. Eu precisava fazer alguma coisa!
- Mas que diabos! - disse o general de bigodes cinzas - Estou sem cigarros de novo. Essas leis malditas que aumentaram o preço dos maços, não aguento mais pagar tantos impostos.
- Ei, seu general! - disse eu, sacando um maço de cigarros Marlboro do bolso - Eu tenho cigarros.
- Ótimo. Me dá aqui.
- De jeito nenhum! - gritei, correndo de um lado para o outro me esquivando dos seus subordinados
- Peguem essa garota!! - gritou ele enfurecido. Mas eu era boa em "dar olé" nos caras maus da história, que, por sua vez, não tinham uma resistência física muito boa e caíam sem fôlego rapidamente. Talvez por isso eu fizesse parte da "Resistência" e eles não. Quem sabe.
- Será que vou ter que fazer tudo sozinho? - gritou o general, vindo em minha direção.
- Acalme-se, senhor general - disse eu, de cima de uma pilha de subordinados caídos - Eu posso te dar um cigarro, se você quiser.
- É claro que eu quero!
- Então vamos fazer um trato. Eu te dou este maço de cigarros novinho e fechadinho - disse eu, balançando o maço na frente dele - e você liberta meus amigos e desiste do plano maluco de bombardear o mundo.
- Eu não posso fazer isso.
- Então tudo bem, eu mesma vou fumar estes cigarros - respondi, abrindo o maço lentamente.
- Ah... não acredito que vou fazer isso, mas... - disse o general, tremendo - Podem soltar aqueles animais. E cancelem a guerra. Não vale mais a pena, mesmo.
Eu entreguei-lhe o maço de cigarros, meus amigos foram soltos, todos viveram felizes para sempre... e eu acordei.
- Opa, e aí, beleza? - perguntei para um dos guardas.
- Na verdade não. Tá tendo a maior festança lá em cima e nós aqui em baixo, matando caramujos.
- Sabe como é - respondeu o outro - não podemos deixar entrar quem não foi convidado. E caramujos são a espécie mais penetra do planeta.
- Ei, você foi convidada? - perguntou o outro, erguendo sua lança em posição de combate.
- Obviamente.
- Tem o convite??
- Bem, na verdade não. Mas não sou um caramujo, veja - respondi, abrindo os braços para que me vissem melhor.
- Não sei... tem essas coisas na sua cabeça que parecem antenas. O que você acha Scruge?
- Acho que isso é o cabelo dela, coitada. - respondeu o outro guarda - Não deve penteá-lo há o quê, umas duas décadas?
- É verdade. Tudo bem, então. Pode passar. Mas penteie o cabelo quando puder, sim?
E, então, entrei na torre. Havia uma escadaria circular de madeira logo após a entrada. Comecei a subir os degraus lentamente, estava tudo muito quieto para uma festa. Ao chegar ao topo da torre pude ver uma sala imensa, onde várias pessoas estavam agachadas.
- Todo mundo abaixado aí, então!! - gritou uma voz - Vamos tocar fogo!
"Puxa, a festa deve tá bombando, mesmo!" pensei.
Tiros de metralhadora começaram a ecoar pela sala. Um fósforo foi atirado em uma cortina, que começou a queimar quase imediatamente.
"Opa. É outro tipo de fogo. Talvez seja melhor correr".
Desci correndo a escada, e quando cheguei ao térreo, o Thiago, meu namorado, surgiu de trás de uma pilastra, com roupas rasgadas e uma faixa tipo "rambo" na cabeça dizendo-me que fazia parte da "Resistência" e que precisávamos dar o fora dali o quanto antes.
- Não há mais lugares seguros - disse ele, fazendo marcas de tinta guache preta em minhas bochechas e puxando-me pelo braço.
Saímos da torre. Os guardas romanos não estavam mais tomando conta da entrada. Talvez os caramujos tivessem desistido de ir à festa sem convite, uma vez que ela ficara um pouco mais quente do que o esperado, fazendo com que os guardas pudessem voltar para suas respectivas casas a tempo do chá com biscoitos e da novela das seis. Ou talvez eles simplesmente tivessem sido mortos pelos caras maus da história. Vai saber.
Quando chegamos ao parquinho infantil que havia nas imediações da torre alguns senhores fardados e suspeitos estavam rondando o local. Provavelmente eram os caras maus da história. Fizemos então o que era mais lógico naquele momento: fingimos ser crianças pequenas que não tinham ideia do que estava acontecendo e brincamos no balanço.
- Você precisa continuar - disse-me Thiago - Vai, eu fico aqui para te dar cobertura.
Andei por uma rua cheia de postes de iluminação antigos e cheguei na frente de um tipo de galpão cinzento. Nesta hora vários homens fardados apareceram escoltando muitos amigos meus da FFLCH que haviam sido presos por desordem e desacato a autoridade.
- Levem todos para interrogatório. O plano tem que continuar - disse um dos homens, que tinha grandes bigodes cinzas, para um subordinado.
- Estão planejando uma guerra nuclear total - cochichou-me alguém - Eles não sabem que você é da resistência. Faça alguma coisa!
Os caras maus da história levaram meus amigos para dentro do galpão. Eu precisava fazer alguma coisa!
- Mas que diabos! - disse o general de bigodes cinzas - Estou sem cigarros de novo. Essas leis malditas que aumentaram o preço dos maços, não aguento mais pagar tantos impostos.
- Ei, seu general! - disse eu, sacando um maço de cigarros Marlboro do bolso - Eu tenho cigarros.
- Ótimo. Me dá aqui.
- De jeito nenhum! - gritei, correndo de um lado para o outro me esquivando dos seus subordinados
- Peguem essa garota!! - gritou ele enfurecido. Mas eu era boa em "dar olé" nos caras maus da história, que, por sua vez, não tinham uma resistência física muito boa e caíam sem fôlego rapidamente. Talvez por isso eu fizesse parte da "Resistência" e eles não. Quem sabe.
- Será que vou ter que fazer tudo sozinho? - gritou o general, vindo em minha direção.
- Acalme-se, senhor general - disse eu, de cima de uma pilha de subordinados caídos - Eu posso te dar um cigarro, se você quiser.
- É claro que eu quero!
- Então vamos fazer um trato. Eu te dou este maço de cigarros novinho e fechadinho - disse eu, balançando o maço na frente dele - e você liberta meus amigos e desiste do plano maluco de bombardear o mundo.
- Eu não posso fazer isso.
- Então tudo bem, eu mesma vou fumar estes cigarros - respondi, abrindo o maço lentamente.
- Ah... não acredito que vou fazer isso, mas... - disse o general, tremendo - Podem soltar aqueles animais. E cancelem a guerra. Não vale mais a pena, mesmo.
Eu entreguei-lhe o maço de cigarros, meus amigos foram soltos, todos viveram felizes para sempre... e eu acordei.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
O Planeta Água (ou O Dia Em Que Eu Virei Um Menino Azul De Doze Anos)
Pelos idos anos de 2009 sonhei que era um tipo de alienígena. Meu corpo não era muito diferente do dos seres humanos - eu possuía dois braços, duas pernas e uma cabeça, mas era completamente azul. E, além disso, eu era um garoto.
O planeta era quase em sua totalidade recoberto por água. E foi nos poucos pedaços de terra emersa que a espécie humanóide da qual eu fazia parte ergueu sua civilização. Era bastante avançada tecnologicamente, mas nossas ciências andavam de mãos-dadas com a nossa religião. Os deuses ali adorados eram divindades energéticas ligadas às águas e ao sol, e eram justamente nestas ligações energéticas entre o cosmos e a natureza que nossas ciências se baseavam.
Pois bem. Havia um ritual matinal a ser empreendido por todas as crianças de até quatorze anos que consistia na saudação do deus sol. Eu, como já mencionei, era um garoto que devia ter por volta de uns doze anos e, consequentemente, deveria participar de tal ritual, o qual acontecia todos os dias no gramado sempre verde do que foi chamado de Jardim Imperial.
O Jardim Imperial era um espaço enorme, cheio de lagos e rios, que circundava o Palácio Imperial - uma construção muito parecida com aquelas da Grécia terráquea antiga, com pilastras brancas e uma grande escadaria. E bem na frente da grande escadaria, ao lado da porta principal, havia um imenso telão que mostrava os últimos acontecimentos do planeta, em especial o que acontecia em sua órbita. E o ritual de saudação ao sol acontecia do lado oposto da onde ficava este telão, o que fazia com que todas as pessoas ficassem de costas para ele.
Eu - ou o menino azul de doze anos que naquele momento era eu - era, obviamente, filho do Imperador. E era um tanto quanto rebelde, não queria ficar ali naquele jardim erguendo os braços cantando feito besta para um deus que nem olhos ou ouvidos tinha.
Virei-me então para o Palácio e fiquei a observar o telão. Guardas com capacetes de cascos de tartarugas me viram, e precisei correr para me esconder. Mergulhei em um dos lagos espelhados que havia por ali e comecei a nadar um tipo de dança bizarra. Os guardas gritaram que aquilo era um sacrilégio e que eu devia ser punido, e que meu pai não iria gostar nem um pouco de ver o único filho dele tendo aquele tipo de atitude.
Fui mandado, então, para o "Tubo do Castigo". Crianças desobedientes costumavam passar um tempo lá. Era um tubo transparente, de vidro ou plástico, talvez, que ficava submerso no lago e que mergulhei. E lá estava eu padecendo meu castigo quando me enfezei com aquele mundo e resolvi fazer de tudo para sair dali. Quando eu fosse Imperador, pensei, as coisas seriam bem diferentes.
Por algum motivo - talvez porque eu fosse filho do Imperador - eu tinha alguma ideia de como funcionavam os controles daquele tubo do castigo, e, apertando os botões em uma sequência musical, consegui fazer com que o tubo subisse pelo lago, cada vez mais rápido, até que finalmente atingi a superfície.
O tal ritual - ou talvez fosse outro, aquele planeta tinha um ritual para cada minuto do dia - ainda acontecia. Estavam todos concentradíssimos em posição de águia voadora que nem perceberam minha fuga, com tubo e tudo, do castigo imposto.
Olhei para o telão; todos ainda estavam de costas para ele. E então percebi que havia alguma coisa muito errada com ele. Uma luz vermelha e verde piscava na tela, e se aproximava cada vez mais do nosso planeta.
- Eles chegaram!! - eu gritei - Eu bem que avisei!! Corram todos para o abrigo!!
Abri a porta - ou o que quer que aquilo fosse - do meu tubo do castigo e puxei dois humanoides azuis da minha espécie para dentro: Um senhor bem mais velho e a menina que era minha melhor amiga.
Apontei o tubo para o lago e comecei a descer. O abrigo ficava em um complexo aquático debaixo dos lagos. E no meio do caminho, de repente, meu tubo se partiu. Muita água começou a entrar por vários lugares e o senhor que estava comigo começou a se desesperar. Continuamos nadando, o abrigo estava perto, e, por sorte, conseguimos chegar vivos.
Lá, secos e com ar, vimos que muita gente não tinha tido a mesma sorte que nós. O sistema de segurança bloqueou todas as entradas, fazendo com que muitas pessoas azuis morresses afogadas. Eu chorei, e prometi, entre soluços, para minha amiga e para senhor que ali estavam, que quando eu fosse Imperador uma tragédia daquelas nunca mais aconteceria.
E acordei...
O planeta era quase em sua totalidade recoberto por água. E foi nos poucos pedaços de terra emersa que a espécie humanóide da qual eu fazia parte ergueu sua civilização. Era bastante avançada tecnologicamente, mas nossas ciências andavam de mãos-dadas com a nossa religião. Os deuses ali adorados eram divindades energéticas ligadas às águas e ao sol, e eram justamente nestas ligações energéticas entre o cosmos e a natureza que nossas ciências se baseavam.
Pois bem. Havia um ritual matinal a ser empreendido por todas as crianças de até quatorze anos que consistia na saudação do deus sol. Eu, como já mencionei, era um garoto que devia ter por volta de uns doze anos e, consequentemente, deveria participar de tal ritual, o qual acontecia todos os dias no gramado sempre verde do que foi chamado de Jardim Imperial.
O Jardim Imperial era um espaço enorme, cheio de lagos e rios, que circundava o Palácio Imperial - uma construção muito parecida com aquelas da Grécia terráquea antiga, com pilastras brancas e uma grande escadaria. E bem na frente da grande escadaria, ao lado da porta principal, havia um imenso telão que mostrava os últimos acontecimentos do planeta, em especial o que acontecia em sua órbita. E o ritual de saudação ao sol acontecia do lado oposto da onde ficava este telão, o que fazia com que todas as pessoas ficassem de costas para ele.
Eu - ou o menino azul de doze anos que naquele momento era eu - era, obviamente, filho do Imperador. E era um tanto quanto rebelde, não queria ficar ali naquele jardim erguendo os braços cantando feito besta para um deus que nem olhos ou ouvidos tinha.
Virei-me então para o Palácio e fiquei a observar o telão. Guardas com capacetes de cascos de tartarugas me viram, e precisei correr para me esconder. Mergulhei em um dos lagos espelhados que havia por ali e comecei a nadar um tipo de dança bizarra. Os guardas gritaram que aquilo era um sacrilégio e que eu devia ser punido, e que meu pai não iria gostar nem um pouco de ver o único filho dele tendo aquele tipo de atitude.
Fui mandado, então, para o "Tubo do Castigo". Crianças desobedientes costumavam passar um tempo lá. Era um tubo transparente, de vidro ou plástico, talvez, que ficava submerso no lago e que mergulhei. E lá estava eu padecendo meu castigo quando me enfezei com aquele mundo e resolvi fazer de tudo para sair dali. Quando eu fosse Imperador, pensei, as coisas seriam bem diferentes.
Por algum motivo - talvez porque eu fosse filho do Imperador - eu tinha alguma ideia de como funcionavam os controles daquele tubo do castigo, e, apertando os botões em uma sequência musical, consegui fazer com que o tubo subisse pelo lago, cada vez mais rápido, até que finalmente atingi a superfície.
O tal ritual - ou talvez fosse outro, aquele planeta tinha um ritual para cada minuto do dia - ainda acontecia. Estavam todos concentradíssimos em posição de águia voadora que nem perceberam minha fuga, com tubo e tudo, do castigo imposto.
Olhei para o telão; todos ainda estavam de costas para ele. E então percebi que havia alguma coisa muito errada com ele. Uma luz vermelha e verde piscava na tela, e se aproximava cada vez mais do nosso planeta.
- Eles chegaram!! - eu gritei - Eu bem que avisei!! Corram todos para o abrigo!!
Abri a porta - ou o que quer que aquilo fosse - do meu tubo do castigo e puxei dois humanoides azuis da minha espécie para dentro: Um senhor bem mais velho e a menina que era minha melhor amiga.
Apontei o tubo para o lago e comecei a descer. O abrigo ficava em um complexo aquático debaixo dos lagos. E no meio do caminho, de repente, meu tubo se partiu. Muita água começou a entrar por vários lugares e o senhor que estava comigo começou a se desesperar. Continuamos nadando, o abrigo estava perto, e, por sorte, conseguimos chegar vivos.
Lá, secos e com ar, vimos que muita gente não tinha tido a mesma sorte que nós. O sistema de segurança bloqueou todas as entradas, fazendo com que muitas pessoas azuis morresses afogadas. Eu chorei, e prometi, entre soluços, para minha amiga e para senhor que ali estavam, que quando eu fosse Imperador uma tragédia daquelas nunca mais aconteceria.
E acordei...
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Zumbis na FFLCH (ou Como Matar Monstros Com Lápis Número Dois)
Certa noite sonhei que terríveis zumbis atacavam o nosso glorioso prédio de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Eu estava nas mesas da lanchonete, calmamente tomando meu café, quando o caos se iniciou. Da frente do prédio uma turba de indivíduos desgovernados pôs-se a correr na direção contrária, gritando por suas vidas e avisando os colegas (ou aqueles que por sorte conseguiram escapar de serem pisoteados até a morte) que havia uma horda de zumbis famintos por cérebros do lado de lá.
Levantei-me calmamente e pus a exercer minha função de líder.
(Obs: Sim, obviamente, eu era a líder da FFLCH. E não uma líder dirigente qualquer, mas a Rainha, em toda a sua glória. Porque, né, o sonho é meu, a protagonista sou eu e meu subconsciente é e sempre foi megalomaníaco)
Como líder, precisava dar um jeito naquela joça. Fiz o que qualquer um na minha posição faria: perguntei para as pessoas que ali se encontravam se, por acaso, alguma delas portava qualquer tipo de armamento que pudesse ser utilizado contra os zumbis. Infelizmente nenhum dos presentes carregava nem uma mísera espada de corte duplo que pudesse me emprestar.
Encontrei uma moça gorducha de cabelos claros e óculos que, oh, pena, justamente naquele dia não havia levado seu arco-e-flecha de caçar gamos, mas por sorte guardara duas lanternas na bolsa para quaisquer eventualidades.
- E o que eu vou ganhar se te emprestar minhas lanternas? - perguntou-me a garota, com as mãos na cintura.
- O seu cérebro permanece na sua cabeça - eu respondi.
- É pouco. Quero não precisar assistir aula por duas semanas e ganhar uma medalha de estrela de honra-ao-mérito.
- Uma estrela de honra-ao-mérito? Francamente, menina. - respondi indignada - Pode ser a de xerife? completei, reirando uma estrela de xerife de velho-oeste da bolsa e entregando-lhe.
Agora nós possuíamos duas lanternas contra milhares de zumbis famintos. Yey.
Os monstros começaram a entrar efetivamente no prédio da História e resolveram montar uma piscininha de mil litros cheia de sangue humano no meio do pátio. Vários dos zumbis eram tipos conhecidos do lugar, aquelas figuras que batem cartão em qualquer festa ou manifestação - só que agora estavam verdes e em plena decomposição -, e um deles começou a fazer um discurso qualquer sobre a revolução do submundo e a necessidade de uma legislação sobre a questão da zumbinidade e suas implicações.
Neste momento as luzes do prédio já eram história, e estava de noite. Os zumbis aglomeravam-se cada vez mais à minha volta, e eu estava completamente sem saber o que fazer.
Corri para a rampa e, quando cheguei ao segundo andar percebi que aquele era, na verdade, uma enorme varanda de um castelo medieval, e os monstros que antes eram zumbis agora estavam mais para seres encapuzados que lembravam muito os dementadores do Harry Potter. Um destes seres vestia uma roupa de padre vermelha, possivelmente era líder, enquanto todos os outros usavam vestes negras.
E então havia milhões de lápis pretos ao meu redor. Milhões, milhões. Uma voz em algum lugar me disse que todos eles virariam novos monstros encapuzados se eu não fizesse nada a respeito disso, e rápido.
Pus-me, então, a montar um tipo de arco-e-flecha com aqueles lápis e saí a disparar os que tinham as pontas mais afiadas na direção dos seres encapuzados. E,há!, eles tombavam imóveis quando minhas flechas de lápis nº2 acertavam em cheio seus corações.
O monstro com a roupa de padre, percebendo o perigo, veio em minha direção para tentar um contra-ataque, mas fui mais rápida: enfiei-lhe o lápis direto em seu coração, como uma estaca, e observei-o perecer lentamente.
- Coração de zumbi se quebra fácil - murmurou ele, os olhos esbranquiçados fixos nos meus, e então tombou.
Os outros zumbis-dementadores desapareceram em uma nuvem de fumaça e, mais uma vez, eu salvei o mundo de uma praga terrível minutos antes de levantar-me para tomar café.
Eu estava nas mesas da lanchonete, calmamente tomando meu café, quando o caos se iniciou. Da frente do prédio uma turba de indivíduos desgovernados pôs-se a correr na direção contrária, gritando por suas vidas e avisando os colegas (ou aqueles que por sorte conseguiram escapar de serem pisoteados até a morte) que havia uma horda de zumbis famintos por cérebros do lado de lá.
Levantei-me calmamente e pus a exercer minha função de líder.
(Obs: Sim, obviamente, eu era a líder da FFLCH. E não uma líder dirigente qualquer, mas a Rainha, em toda a sua glória. Porque, né, o sonho é meu, a protagonista sou eu e meu subconsciente é e sempre foi megalomaníaco)
Como líder, precisava dar um jeito naquela joça. Fiz o que qualquer um na minha posição faria: perguntei para as pessoas que ali se encontravam se, por acaso, alguma delas portava qualquer tipo de armamento que pudesse ser utilizado contra os zumbis. Infelizmente nenhum dos presentes carregava nem uma mísera espada de corte duplo que pudesse me emprestar.
Encontrei uma moça gorducha de cabelos claros e óculos que, oh, pena, justamente naquele dia não havia levado seu arco-e-flecha de caçar gamos, mas por sorte guardara duas lanternas na bolsa para quaisquer eventualidades.
- E o que eu vou ganhar se te emprestar minhas lanternas? - perguntou-me a garota, com as mãos na cintura.
- O seu cérebro permanece na sua cabeça - eu respondi.
- É pouco. Quero não precisar assistir aula por duas semanas e ganhar uma medalha de estrela de honra-ao-mérito.
- Uma estrela de honra-ao-mérito? Francamente, menina. - respondi indignada - Pode ser a de xerife? completei, reirando uma estrela de xerife de velho-oeste da bolsa e entregando-lhe.
Agora nós possuíamos duas lanternas contra milhares de zumbis famintos. Yey.
Os monstros começaram a entrar efetivamente no prédio da História e resolveram montar uma piscininha de mil litros cheia de sangue humano no meio do pátio. Vários dos zumbis eram tipos conhecidos do lugar, aquelas figuras que batem cartão em qualquer festa ou manifestação - só que agora estavam verdes e em plena decomposição -, e um deles começou a fazer um discurso qualquer sobre a revolução do submundo e a necessidade de uma legislação sobre a questão da zumbinidade e suas implicações.
Neste momento as luzes do prédio já eram história, e estava de noite. Os zumbis aglomeravam-se cada vez mais à minha volta, e eu estava completamente sem saber o que fazer.
Corri para a rampa e, quando cheguei ao segundo andar percebi que aquele era, na verdade, uma enorme varanda de um castelo medieval, e os monstros que antes eram zumbis agora estavam mais para seres encapuzados que lembravam muito os dementadores do Harry Potter. Um destes seres vestia uma roupa de padre vermelha, possivelmente era líder, enquanto todos os outros usavam vestes negras.
E então havia milhões de lápis pretos ao meu redor. Milhões, milhões. Uma voz em algum lugar me disse que todos eles virariam novos monstros encapuzados se eu não fizesse nada a respeito disso, e rápido.
Pus-me, então, a montar um tipo de arco-e-flecha com aqueles lápis e saí a disparar os que tinham as pontas mais afiadas na direção dos seres encapuzados. E,há!, eles tombavam imóveis quando minhas flechas de lápis nº2 acertavam em cheio seus corações.
O monstro com a roupa de padre, percebendo o perigo, veio em minha direção para tentar um contra-ataque, mas fui mais rápida: enfiei-lhe o lápis direto em seu coração, como uma estaca, e observei-o perecer lentamente.
- Coração de zumbi se quebra fácil - murmurou ele, os olhos esbranquiçados fixos nos meus, e então tombou.
Os outros zumbis-dementadores desapareceram em uma nuvem de fumaça e, mais uma vez, eu salvei o mundo de uma praga terrível minutos antes de levantar-me para tomar café.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
A Festa das Hárpias (ou Como Me Tornei Uma Heroína Nacional)
Eu tinha acabado de ser convidada para uma festa. Uma festa tranquila, de amigos, no apartamento de uma conhecida minha. Não sabia se iria, ainda, mas acabaram por me convencer. E, por fim, eu fui.
O apartamento não era muito grande, e tinha paredes esverdeadas. Janelas quadradas com venezianas eram voltadas para o prédio vizinho.
Cheguei sozinha, levando uma caixinha de cervejas.
- Que bom que você veio! - disse-me a dona da casa - Mas precisamos ver o que você vai comer - completou, abrindo a geladeira vazia.
- Ah, sim, minhas irmãs e minha prima vieram comigo - respondi, lembrando naquele momento que minhas duas irmãs mais novas e, também, minha priminha de nove anos estavam ali comigo.
- Ótimo, ótimo! - exclamou uma amiga, mais feliz por vê-las do que seria politicamente aceitável.
Andei pelo apartamento cumprimentando conhecidos e cheguei a uma sala que parecia ser uma farmácia.
Uma garota que conheço de vista passou por mim e derrubou algumas prateleiras com remédios. Disse algo que não pude entender e sumiu em um lugar escuro.
- Meninas, quero mostrar uma coisa para vocês, venham aqui - disse a dona da casa para minhas irmãs e minha prima. Elas foram, eu continuei observando os remédios das prateleiras.
A garota que eu conheço de vista apareceu mais uma vez e disse:
- Tudo bem agora, pode ir embora. Elas vão comer.
- Comer? Elas quem? Comer o quê?
- As garotas, ora. É melhor sair daqui enquanto pode.
Minhas amigas que estavam na festa eram todas canibais, e iriam comer minhas irmãs e minha prima!?
Corri para onde elas estavam sendo levadas e dei uma remediada na dona da casa. Leia-se: joguei um frasco de um remédio verde na cara dela. E ela começou a derreter.
As outras moças do apartamento vieram na minha direção, lutamos, encontrei um sabre-de-luz em uma gaveta e fatiei duas delas.
- Corram!! - gritei para minhas irmãs e minha prima.
Corremos para o hall de entrada e apertamos o botão do elevador. Foi quando um homenzinho careca saiu do apartamento ao lado e começou a jogar malas de viagem em nossa direção.
Quando o elevador finalmente chegou e conseguimos sair do prédio, descobri estar em São Pedro. E que lá, naquele portal do inferno, estava nevando.
- Puxa, quem diria, heim! Neve em São Pedro! Que mágico! - eu disse.
- Olha lá! - gritou uma senhora de uma multidão que se aproximava - É a garota que destruiu as hárpias! - disse, apontando para mim - Precisamos premiá-la! É nossa heroína nacional!
Mil pessoas vieram em minha direção parabenizando-me pelo meu feito e entregando-me sacas de ouro e prata. Fiquei rica, comprei um óculos-escuros cor-de-abóbora e um pônei voador.
E aí, quando vieram me pedir que matasse uma tarântula gigante que assombrava o vilarejo das uvas, finalmente acordei.
XD
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Apresentação
Oh, puxa. Estou parecendo uma certa amiga minha que cria blogs como quem troca de roupas.
Acontece que minha Inspiração anda por demais instável, aparecendo por momentos fugazes e desaparecendo antes que alguém possa dizer "parangatirimiruaro".
Resolvi então criar este blog com um objetivo único: Registrar as estórias mirabolantes que meu subconsciente cria na calada da noite.
Até então nunca fiquei na mão com meu sempre ativo Subconsciente. Vamos ver se este meu psicodélico outro-eu conseguirá ajudar-me a driblar esta ébria inconsequente que sempre foi minha Inspiração.
Acontece que minha Inspiração anda por demais instável, aparecendo por momentos fugazes e desaparecendo antes que alguém possa dizer "parangatirimiruaro".
Resolvi então criar este blog com um objetivo único: Registrar as estórias mirabolantes que meu subconsciente cria na calada da noite.
Até então nunca fiquei na mão com meu sempre ativo Subconsciente. Vamos ver se este meu psicodélico outro-eu conseguirá ajudar-me a driblar esta ébria inconsequente que sempre foi minha Inspiração.
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